Manifesto do Festival ‘O Futuro se Faz em Luta’
Viemos porque o presente exige. Porque há algo dentro de nós que não aceita à destruição. Viemos de onde a vida insiste em resistir, mesmo quando tudo parece ruína. Somos povos, comunidades, movimentos e vozes diversas que buscam alianças para fortalecer as ações de hoje e trilhar, com coragem, os caminhos do amanhã.
Aqui, o tempo não é neutro. O território está em disputa, e o futuro também. Por isso, escolhemos estar juntos. Organizar é o contrário de desistir… é plantar agora o amanhã que queremos viver. Sinop é também o centro de um chamado. Não é apenas o território da expressão mais agressiva do agronegócio. Aqui é ponto de encontro entre floresta e cidade, entre quem resiste e quem sonha.
Estamos erguendo pontes vivas sobre lagos que tentaram afogar memórias com a construção de hidrelétricas. Propomos corredores de resistência, onde cada passo se torna travessia entre o medo e a esperança, entre o que ainda existe e o que precisa nascer.
Aprendemos com a muvuca: as sementes não competem, convivem para buscar equilíbrio na diversidade. As sementes ligeiras, que crescem mais rápido, fazem sombra, e as profundas criam raízes. Assim queremos nossas práticas: diversas, solidárias e persistentes. Mesmo com o alagamento que tenta submergir territórios e sonhos, seguimos semeando nas margens.
Onde disseram fim, respondemos com recomeço. O festival nasce dessa escolha coletiva de fazer do encontro um canteiro vivo, onde a comunicação, a cultura e a luta climática se entrelaçam como práticas inseparáveis de transformação.
Aqui, comunicação é roda, é escuta, é palavra viva. Cultura é denúncia, memória e reinvenção. Clima é vida concreta, não discurso de salão. Enquanto alguns negociam o planeta, nós o defendemos com o que temos: arte, palavra, corpo e presença.
Recusamos a violência, o medo e o lucro acima da vida. Recusamos o colonialismo disfarçado de progresso e as falsas soluções que vendem salvação em créditos e cifras. A causa Palestina nos atravessa como um espelho moral do nosso tempo, lembrando que não há liberdade possível enquanto houver povos sendo cercados, expulsos, silenciados e exterminados.
Diante da brutalidade colonial que destrói vidas e territórios, reafirmamos a centralidade da Terra como condição de existência e a autonomia dos povos como horizonte de justiça. No Brasil, esse compromisso se traduz na urgência das demarcações das Terras Indígenas, da reforma agrária popular, da titulação das terras quilombolas e do respeito aos modos de vida que sustentam a soberania e a dignidade coletiva. Afirmamos poder popular, água livre e energia como bem comum. Queremos cidades que acolham, escolas que libertem, culturas ancestrais vivas, alimentos saudáveis e ecossistemas de pé.
Sabemos que tudo tem seu tempo de brotar, crescer e florescer. No curto prazo, precisamos respirar e trabalhar em mutirão. No médio, fortalecer processos de formação e redes. No longo, aprofundar raízes que sustentem outra economia, outra política e outro modo de viver. A ponte que erguemos hoje será a travessia que sustentará os caminhos de amanhã.
Se perguntarem o que é este festival, diremos que é semente e travessia. É o espaço onde a pluralidade converge e se fortalece, onde cada gesto encontra companhia e onde o comum volta a ser chão fértil.
O futuro não está dado. Ele se constrói com cuidado, coragem e rebeldia, no presente em que nos encontramos para seguir.
Que este manifesto circule como o vento, alcance outros territórios e crie raízes onde disseram que não havia mais chão. Que inspire novas pontes, novos encontros e novas formas de fazer brotar a vida!
O Futuro se Faz em Luta
Festival Popular de Comunicação, Cultura e Clima
Sinop • Mato Grosso • 23, 24 e 25 de outubro de 2025
- A Proteja
- Movimento dos Atingidos por Barragens de Mato Grosso (MAB/MT)
- Movimento dos Atingidos por Barragens de Rondônia (MAB/RO)
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Mato Grosso (MST/MT)
- Famílias da Comunidade Nossa Senhora da Salete do Assentamento Gleba Mercedes V
- Famílias do Reassentamento Beckhauser
- Famílias assentadas no Projeto de Desenvolvimento Sustentável 12 de Outubro
- Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT)
- A Lente
- Cooperativa dos Produtores Agropecuários da Região Norte do Estado do Mato Grosso (COOPERVIA/MT)
- Sistema de Canteiros de Comercialização Solidária (Cantasol)
- Cooperativa de Agricultura Familiar de Sinop (Cooperafs)
- Comunidade de Pedreira e Palmital
- Povos Apiaká, Kayabi e Munduruku
- Rede Juruena Vivo
- Instituto Ouro Verde (IOV)
- Rede Sementes Portal da Amazônia
- Teatro Experimental de Alta Floresta
- Operação Amazônia Nativa (OPAN)
- Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (FORMAD)